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O impacto que o coronavírus causa na indústria de Hollywood

*Por Ketty Bittencourt

Indústria de entretenimento foi obrigada a cancelar filmagens, produções, estreias e eventos públicos.


Foi constatado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 30 de janeiro de 2020, um surto da doença causada pelo novo coronavírus, a COVID-19, constituindo uma emergência de saúde pública de importância internacional. Em menos de 2 meses, no dia 11 de março, a doença foi caracterizada como uma pandemia mundial. Na primeira quinzena de abril, nos EUA, o número de mortes já ultrapassava 16 mil, e as dificuldades enfrentadas aumentavam a cada dia. Hoje, dia 29 de abril, esse número já é três vezes maior, mais de 57 mil mortes.


Aqui em Los Angeles ainda continuamos em “lockdown”, mas o prefeito, Eric Garcetti, já anuncia os planos para a retomada aos poucos das atividades para o mês de maio. Segundo ele a reabertura será gradual e guiada pela saúde pública e a ciência através de 4 etapas: 1)Safety and Preparedness ( Segurança e Preparação); 2)Lower Risk Workplaces (Locais de trabalho de menor risco); 3)Higher Risk Workplaces (Locais de trabalho de maior risco) e 4) End of Stay-At-Home Order (Fim do confinamento obrigatório em casa).


O sistema de saúde das cidades estão em colapso: a superlotação de hospitais, a exaustão física e emocional dos médicos por longas jornadas de trabalho, os materiais e de proteção diminuindo e expondo os medicos, a falta de profissionais para atender a todos, equipamentos respiratórios , o aumento no número de mortos diariamente. Sem falar da dificuldade da população local sair para fazer compras expõe ainda mais os estrangeiros. No dia 10 de abril o prefeito de Los Angeles decretou uma ordem de emergência pública requerindo que todos utilizem máscaras ao sairem de casa, caso contrário poderão ser presos e, ou levar multa por não estarem utilizando máscara em público.


As recomendações são desde não realizarmos tarefas essenciais como a de ir ao mercado, por exemplo, caso tenhamos comida suficiente em casa, ou seja, não saia para comprar algo extra, ou seja, mantenha-se com o que você já tem.


Diante desse cenário nos EUA muitas produções, filmagens, estréias e eventos públicos foram cancelados em Hollywood. Diversas foram as consequências, especialmente nas finanças de muitos profissionais que trabalham na capital do entretenimento.


Perante o exposto conversei com alguns cineastas brasileiros que moram em Los Angeles para darem um panorama geral do que está acontecendo e previsão de como está a situação para eles durante essa quarentena. O clima de tensão e preocupação foi unanime, pois todos tiveram seus projetos cancelados ou adiados e dizem que tudo é incerto e sem previsões futuras.


Muitos profissionais desse meio são freelancers, ou seja, trabalham por projeto, e só recebem caso os projetos sejam efetivamente realizados. Isso está afetando a vida de muitos cineastas brasileiros por aqui. É o caso da cineasta, Luisa Novo, que estava trabalhando em um projeto com a Netflix, o qual foi cancelado e ainda está aguardando um retorno se será retomado. “Todas as produções foram canceladas ou adiadas. Todo mundo que trabalha na indústria está em estado de suspensão porque não pode ter aglomeração e os sets de filmagens são grandes e tem bastante pessoas. Muitas pessoas estão sem salário e não estão tendo “pay check”. O último dia de gravação foi na quarta-feira, dia 11 de março. Recebi uma ligação da minha chefe direta e recebi depois um email da produção falando da situação e que iriam avisar de qualquer atualização de quando iriam voltar a gravar”.


Segundo Luisa, a empresa pagou toda a equipe pelos dias que eram para estarem gravando. “Eles pagaram os dias que éramos para trabalhar e não trabalhamos , então, eu fui paga por 4 dias a mais do que havia trabalhado”.


Luisa Novo ainda não recebeu novas informações de quando as gravações serão retomadas. “Não tive até o momento “update” de quando vão retomar as gravações, mas eu acredito que vão ter que ser retomadas sim, em alguma hora porque foi gravado apenas um pedaço”. Ela também relata que além de não ter nenhuma atualização de datas também não sabe se vai ser a mesma equipe que irá trabalhar.


Para ela esse era o único trabalho com contrato até a data, foi chamada para outro, o qual também foi cancelado por conseqüência dos novos pronunciamentos do presidente dos EUA. “Eu não tinha outro trabalho esse era o último, mas na semana que foi cancelado esse eu fui chamada para substituir outra pessoa em outro trabalho porque a pessoa estava doente, era para sábado eu fui, e no meio do sábado resolveram cancelar a gravação, e a de domingo também que iria ser o último dia da gravação dessa produção, pois as próximas já tinham sido canceladas. Iriam até domingo mas por causa dos anúncios feitos pelo presidente resolveram cancelar domingo também , mas recebi pelo domingo também”.


A designer de produção e diretora de arte, Carolina Inoue, que estava em pré-produção de um filme da Lifetime TV conta que seu trabalho é bem corrido, fazem uma produção em seguida da outra. Segundo ela, eles tem um cronograma super apertado e um compromisso de entregar 6 filmes por semestre, e dos 6 filmes deste semestre ela está contratada para 4. Então se 1 filme é adiado, todos consequentemente são também. “O primeiro eu havia terminado no inicio do ano e estava pra começar a gravar o segundo quando a quarentena entrou em vigor. Agente ia acabar no começo de abril e já iria iniciar a pré-produção do terceiro filme que seria gravado no final de abril e maio . Eu então teria 1 semana de folga antes de começar o quarto em junho.”


No caso da Carolina seus projetos não foram cancelados porque a produtora que ela trabalha tem um contrato com a rede de TV e tem o compromisso de entregar o material. “Mas graças a Deus eles não foram cancelados. Como essa epidemia é um caso a parte e ninguém sabe ao certo quando tudo volta ao normal, acredito que a Lifetime TV dê uma brecha nas datas pra entrega dos filmes, mas mesmo assim os filmes precisam ser gravados o quanto antes, assim que voltarmos a normalidade. No momento eles falaram que se tudo voltar ao normal até abril, nós devemos iniciar a gravação na segunda semana do mês”, afirma ela.


Ela ainda relata que ela teve sorte, pois a realidade do freelancer ė diferente da que ela se encontrava no momento em que iniciou a pandemia e o cancelamento das muitas produções. “A minha sorte foi estar com essa produtora apenas, mas essa geralmente não é a realidade do freelancer. Normalmente eu teria contratos com produtoras diferentes e muito provavelmente se 1 filme é adiado, todas as datas acabam encavalando. E quando isso acontece não nos resta outra solução senão escolher quais produções manter e quais passar adiante”.


A situação ainda é mais delicada pois a grande maioria desses profissionais simplesmente não tem outra forma de ganhar dinheiro. Sem produção, sem renda. Não existe um salário. Carolina relata que por mais que esteja com projetos com essa produtora a sua situação financeira ainda a preocupa pois não está garantida. “Quanto aos pagamentos, eu recebo por semana, logo eu recebi até a última semana de pré-produção, mas assim que tudo foi parado eu também deixei de ser paga e só volto a ser paga quando voltarmos a trabalhar”.



Para piorar a situação, a maior parte deles possui um tipo de visto específico, o O1, e não pode ter acesso ao pacote de ajuda financeira que o governo dos EUA liberou para os cidadãos americanos, e não tem permissão para trabalhar com outra atividade que não seja o entretenimento. Então muitos estão sem renda neste momento de quarentena ou ainda tendo que se reinventar de alguma forma para conseguirem ter alguma forma de ganho e se manterem por aqui.


O cenário atual de entretenimento em Hollywood


Nesse caso de incerteza sobre a evolução da pandemia na área do entretenimento, o cineasta, Raphael Botelho Bittencourt, relata o contraste entre grandes empresas como Netflix e grupos exibidores. “Na área de conteúdo e entretenimento, por exemplo, o contraste entre quem está com a corda no pescoço e quem pode se dar muito bem é bárbaro. Os grandes grupos exibidores estão arrancando os cabelos com salas proibidas de funcionar e centenas de milhões de dólares de prejuízo. Pequenos exibidores, com poucas salas de cinema, e teatros de pequeno porte, correm risco de falência. De uma hora para outra o fluxo de entrada foi a zero, mas os aluguéis e demais despesas com funcionários e estrutura continua praticamente inalterado. Se a crise de saúde se alastrar por muito tempo, pode ser fatal ”.



Por outro lado nunca se usou tanto streaming como agora nesse período de quarentena. Segundo ele, as empresas do setor de streaming deve ver seus negócios explodirem neste momento e pelos próximos meses. “Entretanto, o setor de streaming e novas assinaturas deve ver um boom de negócios sensacional neste momento e pelos próximos meses. Afinal, está todo mundo compulsoriamente em casa, no mundo todo. Tem situação melhor do que essa para vender acesso a filmes e séries?".



Raphael Bittencourt diz que o crescimento global médio do referido serviço por assinatura tem sido de seis milhões de novos assinantes a cada trimestre desde 2016. Com um mínimo de 2,7 milhões de novos assinantes entre o primeiro e o quarto trimestre de 2019, e um máximo de 9,6 milhões na virada de 2018 para 2019. "É cíclico. O número de novos assinantes sempre aumenta no decorrer do ano até o último trimestre e tem uma queda brusca após a virada do ano, entre o primeiro e o segundo trimestres. Vamos ver como vai ficar em 2020. Eu aposto que veremos um pico atípico".



Segundo Raphael, na Califórnia e nos Estados Unidos em geral, todas as produções que estavam em período de filmagem e gravação foram paralisadas e muitos terão que arcar com vários prejuízos que irão refletir em produções futuras. “Nem tudo pode ser postergado e certamente terão que arcar com vários prejuízos. Prejuízos que certamente se refletirão na realização, ou não, de produções futuras que estavam no planejamento.”

Raphael ainda lembra que as produções paralisadas fatalmente vão acavalar lá na frente com as outras previamente agendadas para os próximos meses. “Adivinha o que deve acontecer? O efeito oposto, uma enxurrada de vagas abertas nas diferentes produções, já que os estúdios, produtoras e investidores precisarão tirar o imenso atraso. Quem viver verá e, com sorte, trabalhará.”



Segundo ele, nesse setor de cinema a maioria dos cargos que estão relacionados a cada produção só são remunerados quando os projetos estão em andamento. “Excetuando alguns cargos fixos, a grande maioria da cadeia produtiva, mesmo nos grandes estúdios e empresas, só é remunerada quando os projetos efetivamente acontecem. Sendo assim, diretores, diretores de fotografia, gaffers, eletricistas, assistentes de produção, técnicos de som, maquiadores, maquinistas e outros, estão em casa, sem trabalhar. São dezenas, centenas de técnicos e profissionais por produção. Juntando todos os filmes e séries que foram paralisados, são vários milhares, só em Los Angeles”, afirma Raphael.

Ele ainda relata que os únicos que trabalham no momento se encontram em atividades que podem ser realizadas remotamente ou em formato “home office”, que estão ou no começo, na fase de roteiro e desenvolvimento ou no final do processo produtivo, na fase de pós-produção.



Podemos perceber que pelo cenário atual de Hollywood, e o que muitos profissionais estão vivendo, muitas dessas produções não poderão ser simplesmente retomadas quando essa pandemia passar. Sabemos que elas envolvem, além de datas e planejamentos de calendários, os quais, dependem não apenas das equipes e profissionais, bem como de locações, fatores climáticos sazonais, como neve, por exemplo, orçamentos financeiros, entre outros diversos fatores que ainda desconhecemos.



Muitas dessas produções possivelmente só acontecerão ano que vem e muitos profissionais terão os salários e recebimentos relativos a esses trabalhos adiados ou mesmo extintos. Com toda essa incerteza muita coisa pode mudar, o que irá impactar não somente na maior indústria cinematográfica mundial, como também na vida de muitos desses profissionais brasileiros que vivem nos EUA.



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* Ketty Bittencourt é jornalista, contabilista especializada no mercado empresarial e produtora de conteúdo com mais de 18 anos de experiência. Em 2014 mudou-se para Los Angeles, onde reside atualmente. Atua como consultora e desenvolve estudos e projetos ligados à cultura e entretenimento, negócios e espiritualidade. Apaixonada por fotografia, viagens e diferentes culturas, gosta das coisas simples da vida, das pequenas conquistas e especialmente de compartilhar experiências. No blog está disposta a comunicar aos leitores e tirar dúvidas sobre como enfrentar o impacto desta pandemia. 

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